terça-feira, 2 de junho de 2009

Abordagens

Cômico. É assim que definiria o conjunto de tentativas pra estar comigo.
Qual o problema desses homens? Será que passam por alguma espécie de treinamento?
Fico imaginando todos eles, sentados em cadeiras enfileiradas, com seus bloquinhos de papel e caneta, assistindo atentamente a palestra: "Se o romântico cafona não sutir efeito, tente o inimaginável", ou " Faca ela ter certeza que você sofre de alguma insanidade mental".
Achei que nada mais me surpreendesse, mas admito que, com grande frequência, tenho precisado tirar o chapéu.
- Olá.
É assim que eles comecam. O início pra mim é a parte mais fascinante do processo.
O relacionamento na sua fase célula-tronco. Não sabe a forma nem que direcionamento vai tomar. Por isso é que nenhum olá deve ser ignorado: deixa ele falar, mostrar o que tem na manga, elaborar sua defesa, apresentar os prós e contras.
Não vou mentir: até agora os resultados têm sido decepcionantes.

Desenrolar do processo - Exemplo 1- ''O caso do filho de mamãe'':
- Olá- Uma mulher me cumprimenta na academia.
De alguma forma esse procedimento já estava comecando errado mas, como eu disse, a toda tentativa se deve dar uma oportunidade.
- Olá- Respondi com uma leve resistência
- Você seria perfeita como minha nora.
- Ahn... Obrigada. - Situacão atípica e desconcertante. Paciência, dê corda, vê no que dá.
- Sério, você é o tipo de nora que estou precisando - Que ELA está precisando?- Posso te mostrar as fotos do meu filho?
- Pode sim! - Com um sorriso simpático, fingindo já ter passado por situacão similar antes.
Ela então pega o celular e fica me mostrando milhares de fotos: ele rindo para ela, dando tchauzinhos, fazendo carinho num cachorro. É, ele nao era dos piores, mas a mãe não teve nem o cuidado de explicar qual o parentesco dele com a crianca recém-nascida que ele tinha no colo em pelo menos três fotos. É, não sei não.
- Posso te pedir uma coisa? - Ela me perguntou
- Pode sim. - Respondi temerosa
- Me dá seu telefone, o do celular e o de casa - O de casa? Pra que diabos ela quer meu telefone de casa? Eu lá vou querer um desconhecido ligando pra minha casa? Será que ela estava pensando na economia, já que muito provavelmente é ela quem paga a conta? Na verdade, ela devia fazer tudo né? Até limpar a bunda do coitado. Se ela escolhia as pretendentes para ele, eu não duvidava mais de nada. Dei os telefones porque tinha chegado num ponto que não dava mais pra voltar atrás. Nessas horas a gente respira fundo e pensa: Seja o que Deus quiser!
Quando eu já tinha até esquecido, em uma sexta-feira que chovia de ameacar o céu cair, meu telefone (celular, ufa!) toca:
- Alô?- Pergunto ríspida. É como reajo a números desconhecidos. No meu alô já estava implícito um quem é ,te conheco de onde e o que é que você quer?
- Alô, tudo bem?
- Tudo ótimo! - Mau humor - Quem é que está falando?
- Minha mãe não ia me deixar dormir se eu nao te ligasse.
Não é que o desgracado me ligou mesmo?
- Então, quando é que eu vou te conhecer? - Ele pergunta.
- Eu não sei. Nunca achei que voce, de fato, ligaria.- A esse ponto estava tentando mostrar para ele que, não me ligar talvez tivesse sido a atitude mais sensata. Se ele era descompensado, o problema era dele, eu aceitar sair com ele seria loucura, a coisa estava passando mesmo dos limites.
- Fiquei curioso, minha mãe falou tão bem de você.
- Foi mesmo? E o que ela disse?
- Disse que voce era bonita - Ah, claro! Me pede em casamento em tão já que beleza é o suficiente- e meiguinha, do jeito que eu gosto.- Meiga? Será que existe alguma sutileza que eu desconheca no meu carregar de pesos na academia ou no meu malhar de glúteos?
- Então, quando posso te ver?
Chegamos ao momento decisivo da questão. Eu poderia simplesmente ter inventado uma desculpa e desligado o telefone, como normalmente faco, porém, dada a anormalidade da situacão, e a graca que eu acharia disso tudo no futuro, caso, por algum milagre, desse certo, me fez passar por cima de todos os meus princípios de conduta e concordar em ir ao cinema com ele.
Fui pra casa da minha amiga e ele ficou de me buscar lá mais tarde. Jamais deixaria um quaquer, em fase de teste, me buscar na minha própria casa.
Quando entrei no carro foi que me dei conta da loucura que estava fazendo. A todo minuto, enquanto tentava manter uma conversa agradável, ficava me perguntando como diabos eu tinha parado ali. Onde eu estava com a cabeca?
Primeira constatacão: Que porra de olho vermelho é esse?
Segunda: Surfista.
Terceira: Péssimo gosto musical.
Quarta:Usava palavras como "coracão" pra definir sentimentos.
Quinto:Insistia em falar da mãe.
Sexto: Sem perspectivas de crescimento profissional.
Isso foi só a ida, o resto da noite preferi resumir assim: Casquinha de sorvete, filme, comentários desnecessários e óbvios sobre a trama, tentativas frustradas de beijo, fim do filme, "parece que a gente ja se conhece a muito tempo", "minha mãe tinha razão, você combina demais comigo", mais músicas ruins e conversa mole na volta para casa, "não vejo a hora de ver de novo" e um "tchau, boa noite, durma bem PRINCESA" na despedida.
Ele não sabia ainda, mas a princesa, ele não ia ver nunca mais.
Ainda recebi algumas mensagens que mais pareciam constatacões climáticas: "Hoje não está chovendo, reparou?", "Já viu como a lua está linda?" e ligacões insistentes que fiz questão de recusar.
Caso concluído e arquivado.

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